domingo, 22 de março de 2009

CONTINUACAO DA TRIP 3 PARTE




Como essas músicas caribenhas chegavam até você?Pelas rádios AM. Lá no interior não pegava FM. Minha avó tinha um rádio grande. Ela tentava sintonizar as estações, ficava chiando até parar na música. Às vezes era rádio do Caribe, da Guiana Francesa. Não pegava rádio do Sul. A gente ficava ouvindo música o dia todo, até tarde da noite. Aquilo foi entrando na minha cabeça.E acabou influenciando na sua música?Influenciou na minha vida toda. Hoje a Banda Calypso existe por conta dessa influência que vem de criança. Até hoje eu ouço rádio AM para escutar essas músicas, até hoje elas me inspiram.Era seu irmão quem lhe ensinava as notas ou você aprendia sozinho?Com uns 10 anos de idade, já comecei a tirar música sozinho. Eu escutava no rádio, ia pegando e tocando em cima do que eu ouvia. Bastava ouvir duas vezes e eu já sabia tocar. Mas, quando a música era mais difícil, quando tinha alguma nota dissonante, ele me ensinava. Com 12 anos, comecei a tocar numa banda de baile por indicação do meu irmão. Mas continuei trabalhando na feira com meu pai. De dia eu ia pra feira, à tarde ia pro colégio, dormia um pouco; quando dava meia-noite, eu já estava na festa tocando. Estudei até a sexta série. Muito pouco, né?Você já tinha responsabilidade de levar o dinheiro pra casa?Tinha. De comprar o material escolar dos meus irmãos, a comida lá de casa. Meu pai perdeu três dedos, ficou difícil trabalhar, e ele tem problema de vista. Eu tinha que trabalhar. Era tipo o chefe da casa, como até hoje.E o apelido Chimbinha, de onde surgiu?Rapaz, isso é complicado para falar. [risos]. Ai, meu Deus do céu. Eu vou contar. O povo me chamava não era de Chimbinha, era de bichinha [risos]. Era moleque, tocava com essa banda em uma boate. a gente chamava assim antes, não sei nem como chamam hoje.

Puteiro?Deve ser. A gente tocava muito nesses bares onde as mulheres iam fazer programa. Eu era molequinho mesmo, era mais novo que meu filho [que tem 12 anos]. O dono da banda mandava as mulheres darem em cima de mim, de brincadeira. Eu ficava triste, chorava muito. Daí ele me chamava de bichinha. Teve um dia que falei que não ia mais tocar. Daí ele disse que ia mudar meu apelido para Chimbinha. Eu gostei. Chimbinha é carinhoso. Depois é que eu descobri que Chimbinha é trocadilho de bichinha. Mas aí o apelido já tinha pegado.O que vocês tocavam na banda? Banda de baile tem que tocar tudo que está na moda. Na época, era Roupa Nova, Zé Ramalho, Sandra de Sá, Alceu Valença, Elba Ramalho, José Augusto. De internacional, a gente tocava o que estava nas rádios: Brian Adams, Rod Stewart, Dire Straits, U2 [começa a lembrar as músicas no violão: “Every Breath You Take”, do Police, “Sweet Child of Mine”, do Guns N’ Roses, “Alagados”, do Paralamas].E quando você passou da banda para o estúdio?No finzinho dos anos 80, começo dos 90. No começo foi difícil para pegar os clientes. O sucesso na época era a lambada, e já havia uma banda muito boa de Belém que dominava as gravações. A gente só gravava aqueles cantores que não tinham condição de gravar com eles. Mas, numa dessas, um cantor comque eu gravei estourou. Foi o Roberto Vilar. Daí o povo começou a me chamar para gravar e a vida da minha família melhorou um pouco. Nós ainda morávamos na favela, mas já tinha chegado água e luz. Só não dava para comprar uma casa ainda.Eu li que você participou de uns mil cds como guitarrista.Por aí. Não tenho o número exato. Tocava todos os ritmos que pedissem. E não gravava só aqui. Gravava em Recife, Fortaleza, Manaus. Eu fiquei de 90 até 99 no estúdio, gravando dia e noite sem parar. Entrava nove da manhã e saía às três da madrugada todos os dias.

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