domingo, 22 de março de 2009

CONTINUACAO DA TRIP 4 PARTE


Carga puxada para um garoto, né?Muito puxada. E até hoje eu sinto isso, porque não consigo dormir. Eu me adaptei com essa vida. Hoje durmo muito pouco. Quando eu consigo dormir quatro horas é uma vitória.Mas você não sente falta de ter feito mais coisas na adolescência? De dançar com as garotas, em vez de tocar no palco?Não, eu gostei de tudo. Se tivesse que voltar, faria tudo igual. Foi muito bom. Aprendi muito. Mas teve muito sacrifício, não estudei do jeito que meu pai queria. O sonho dele era ver a gente formado. Mashoje ele é feliz, porque a gente pode lhe dar uma vida que ele nunca sonhava. Se eu fosse formado em direito, por exemplo, não sei se seria um bom advogado. Porque eu gosto muito do que eu faço. Eu nasci para ser músico e tocar isso que eu toco.Como você saiu do estúdio para criar a Banda Calypso?Em 99 um amigo meu, o Kim Marques, me apresentou à Joelma, que queria gravar seu primeiro disco e precisava de um produtor. Eu ouvi o repertório e não gostei das músicas. Comecei a correr atrás de letras com a Joelma, a fazer Quer dizer, é uma mistura de muitos ritmos que a gente chama de calipso. Vamos completar dez anos de banda, e a gente mesmo não sabe qual é o som que a gente tira. Mas quais ritmos você identifica no som da banda?A gente usa um pouco do carimbó, lambada, merengue, cacicó, zouk e até uma pitada do calipso caribenho. Tem uma percussão meio afro. Eu não sabia o que era o kuduro. Quando eu fui para Angola tocar, ouvi o ritmo e disse: “A gente toca isso desde criança. O Calypso toca sem conhecer”. A gente também vai muito em cima do rock, a caixa do twist com uma guitarra do chacundum, outra guitarra de reggae, outra de funk. Coloco sempre duas, três, quatro guitarras em cada música. Quando a gente vê a soma, tá um som legal pra caramba.E onde que entra a guitarrada? É influência também?É sim. Foi o mestre Vieira quem inventou. Ele pegava a música caribenha e solava a melodia com a guitarra no lugar da voz. Ouvi muito ele. Também sou fã do Aldo Sena. Era meu mestre e depois virou parceiro. Mas minha guitarra também tem outras influências, como o Renato, dos Blue Caps, e o guitarrista que acompanhava o Roy Orbinson. Misturei tudo isso e botei a minha pegada.E o processo de conquista da Joelma, como é que foi?Quando vi a Joelma pela primeira vez, eu não falei com ela. Era muito tímido. Eu pensei: “Será que ela é uma pessoa boçal? Eu não vou falar nada para ela não me tratar mal”. Passei reto. Depois ela disse que pensou a mesma coisa de mim: “É muito boçal, nem fala direito com a gente!”. Aí o Kim convidou a gente para almoçar um camarão com açaí num restaurante aqui de Belém. Ele saiu para atender o telefone, eu fiquei na mesa sozinho com a Joelma, e ela começou a conversar comigo. Quando fui levá-la em casa, ela me convidou para fazer o repertório do disco. Eu morava longe demais, e o ônibus ia só até nove da noite. Se perdesse, era só no outro dia às seis da manhã. Eu acabei dormindo na casa dela e fui ficando. Quando vi já tava junto. Foi assim que aconteceu.E estamos juntos até hoje, graças a Deusmúsica com meus parceiros. Foram dois ou três meses até encaixar um repertório bom. Nesse tempo, nós começamos a namorar. Quando chegamos ao estúdio, eu fiz a proposta de a gente fazer uma banda. E a Joelma topou. Ela disse: vamos botar o nome de Calypso, que vocês usammuito no estúdio. Mas eu disse que o nome era muito difícil, o povo não ia acertar. Daí um dia chega um amigo meu, o Bispo Júnior, e diz: “Chimbinha, eu achei o nome pra tua banda: Calypso! Todo mundo fala que tu é o rei do calipso”. Falei pra Joelma: “Esse nome é bom mesmo”. Ela reclamou que estava sem moral, mas ficou Calypso. No começo, os locutores chamavam de Colapso, Calistro, Calypson, e pensavam que a gente era banda de forró. Deu um trabalho do caramba pro povo assimilar. Mas hoje todo mundo sabe o que é a Banda Calypso, que calipso é um ritmo.

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