domingo, 22 de março de 2009

CONTINUACAO DA TRIP 6 PARTE


Você está falando das rádios. Mas antes disso você deve ter batido à porta de muitas gravadoras para lançar o disco, né?É, esse disco eu mandei pra muita gravadora. Quando a banda estourou, eu fui numa gravadora famosa de São Paulo. O diretor me perguntou: “Por que você não me mandou um disco desses para eu lançar?”.Eu respondi: “Eu mandei, procura aí que chegou em outubro de 99”. A secretária foi pesquisar e viu que tava lá o disco. Não era pra ser. Se eu tivesse lançado o disco com uma gravadora, não teria dado tão certo, porque tem artista com mais prioridade, eles não iriam trabalhar tão bem.O cara da gravadora deve ter se arrependido, porque perdeu muito dinheiro.Muitos se arrependeram. Eles já me falaram. Agora tenho amigos nas gravadoras. E acho que tá difícil hoje a gravadora sobreviver com essa pirataria. A gente mesmo, que é independente e não tem tanto investimento quanto uma gravadora, já está sofrendo. Antigamente a gente tirava tudo da venda do CD, hoje tira do show. A gravadora ainda paga produtor musical, um cara para escolher repertório, outro para fazer arranjo, paga a divulgação. Então as gravadoras foram muito prejudicadas. Se não tomarem uma medida contra a pirataria, eu não sei aonde isso vai chegar.Mas a piataria não ajudou a divulgar a Banda Calypso no começo?Olha, é difícil falar mal da pirataria porque eu fui ajudado por ela. Mas no nosso começo não existia essa pirataria de internet que tem hoje, de baixar música de graça. Na época a pirataria era só de CD. Isso ajudou bastante a gente. Mas hoje a gente lança o disco, amanhã tão baixando. Atrapalha as vendas. As pessoas não sabem o quanto a gente investe, mesmo sendo independente. Para vender por R$ 9,99 para o consumidor final, temos que vender para a distribuidora por um preço muito mais barato. Temos que pagar os direitos autorais dos compositores, os músicos, o estúdio, a arte. Hoje nós temos mais de 200 funcionários, temos que funcionar como uma gravadora e cuidar da divulgação.

Tudo dessa parte quem administra sou eu. Então todo o dia fico falando em três telefones. Quando tá difícil tocar em todas as rádios, eu sofro muito. Aí eu vou visitar o diretor da rádio, peço uma força, volto outro dia. Até que eu consigo.Isso até hoje?Hoje é que eu faço mais. Depois de vender 12 milhões de discos?Agora é que é a hora. Há alguns anos, o povo tinha que tocar Calypso porque tava fervendo mesmo. Hoje, tem rádio que não toca. Muita gente diz que a Banda Calypso inventou um novo modelo de negócio, com essa história de não ter gravadora, de vender disco em show ou em supermercado, de fazer distribuição via camelôs. Esse esquema foi ideia sua?Foi uma ideia da necessidade. Eu não parei para bolar. Fui fazendo. Como não tinha gravadora, era a gente que fazia a distribuição no começo. A Joelma ficava no telefone tirando os pedidos. Eu ia no correio e mandava pro Brasil todo. Começou assim.Esse modelo acabou sendo imitado por muitas bandas, principalmente aqui no Pará, não é?A maioria dos artistas daqui faz isso. Hoje não existe gravadora no Norte e no Nordeste, só no Rio e em São Paulo. Então tivemos que fazer isso aqui para viver de música, porque as gravadoras foram embora daqui. E, se continuar desse jeito, elas vão embora do Brasil.Você soube que um jornalista americano chamado Chris Anderson, editor da revista Wired, citou a Banda Calypso no livro Free!, sobre a economia gratuita?Nunca ouvi falar. Mas que coisa boa. É muito bom esse modelo. Acho que os artistas mais conhecidos também podiam fazer, como Zezé di Camargo, a turma da MPB. Na hora em que um deles de nome entrar, vai dar uma força para a gente continuar mais alguns anos com esse modelo.

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